Quando uma criança é acometida por alguma enfermidade e precisa ser internada ela acaba sendo prejudicada pelo afastamento da escola. Mas no Hospital Walfredo Gurgel , em Natal, essa realidade é bem diferente. Em uma das alas da unidade, mais precisamente no setor de pediatria, o programa Classe Hospitalar beneficia os pacientes com atividades que auxiliam no aprendizado e dão continuidade ao trabalho que estava sendo desenvolvido em sala de aula.
O programa já atua há um ano e três meses e atende pacientes infanto-juvenis com faixa etária dos dois aos 14 anos, tanto do setor de pediatria quanto do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ). Atualmente duas professoras se revezam no atendimento, cada uma sendo responsável por um desses setores. As aulas ocorrem numa sala onde também funciona a brinquedoteca do hospital, ou ainda, no leito para aqueles internos que não podem se deslocar até o local.
O conteúdo lecionado pelas professoras no hospital varia de acordo com a dificuldade de cada criança, nível de aprendizagem e atende também o que é visto em sala de aula na escola. “Esses alunos acabam tendo uma espécie de professora particular e uma atenção maior, as vezes aprendem sem perceber que se trata de uma aula”, diz a educadora Fátima Galvão, responsável pela ala da pediatria, que atende crianças com casos desde politraumas a infecções.
Desta forma, o programa auxilia na aprendizagem e melhora a reinserção do aluno na escola, pois muitos alunos que chegam ao hospital apresentam dificuldade a serem trabalhadas. As aulas não tem um tempo pré-definido e o planejamento vai ser de acordo com a análise feita da criança. E também se adequam ao dia-a-dia do hospital com a medicação, banho e refeições, por exemplo.
O principal objetivo da Classe Escolar é evitar a evasão e a repetência por causa da estada no hospital. A Classe começa a partir do momento que a criança ou adolescente é internado, com o prontuário deles em mãos uma das pedagogas faz o acolhimento, que consiste na apresentação do programa e visita aos leitos para conversa com pais e crianças. Logo em seguida é feita a matrícula, e assim iniciadas as atividades. Ao final, quando o paciente recebe alta, um relatório é gerado e enviado para a escola de origem com todas as informações sobre o estudante.
“Nada é feito como forma de obrigação, nós incentivamos e falamos da importância do trabalho. As crianças se sentem bem quando participam das aulas e tem um momento para esquecer um pouco que estão num hospital. Existem casos que muitos chegam aqui sem saber ler ou fazer as quatro operações e saem com um grande crescimento educativo. E o mais importante eles não perdem o ano letivo”, acrescenta Fátima Galvão.
Já a educadora, Luciana Nogueira, que atua no CTQ do hospital conta que o trabalho feito com as crianças vítimas de queimaduras é um pouco mais delicado, até pelo estado de saúde bem frágil e tratamentos dolorosos. Geralmente esses são os casos com maior tempo de internação, onde existem pacientes que já chegaram até um ano internados.
“Antes de iniciar a atividade educacional em si sempre temos a preocupação de como as crianças estão se sentindo e partir dessa sondagem e diagnóstico realizamos o trabalho. Nós interagimos com jogos e dinâmicas que também ajudam”, revela. Luciana ressalta também outro ponto importante nesse que é a humanização e até mesmo o serviço social prestado aos pacientes e aos familiares.
“É praticamente impossível não haver o envolvimento afetivo com as crianças, principalmente no estado de adoecimento. E isso nos faz crescer como humanos, pois conseguimos entender como é a dor do outro e também nos envolvemos com as famílias que ficam muito fragilizadas e por isso atuamos no encaminhamento deles para outros atendimentos, desde o serviço psicológico, nutricional e social”, destaca.
Emerson Nascimento, de nove anos, é natural de Canguaretama e está há 15 dias internado no HWG devido a uma infecção, ele é um dos alunos atendidos pelo programa Classe Escolar. Segundo a professora Fátima, já apresentou melhoras na leitura. “Ele está num nível que identifica as letras, mas tem um pouco de dificuldade nas sílabas. Mas nesse tempo já vimos um crescimento”, afirma.
Outro interno é Michael Costa, de 11 anos, da cidade de Georgino Avelino. Ele chegou nessa quarta-feira (22) ao hospital devido a uma fratura no braço após cair de sua bicicleta. Curioso após ver a sala de aula e o trabalho que estava sendo com Emerson ele logo se inseriu na atividade. "Podemos avaliar que ele é desinibido, o que vai ajudar muito no seu aprendizado", pontua Fátima Galvão.
O programa educacional é feito por meio de um convênio com a rede municipal de ensino, que disponibiliza as professoras e alguns materiais didáticos como livros, revistas e também de uso pessoal como caderno, lápis, borracha entre outros. Mas a estrutura e material didático ainda precisam ser ampliados. Quem desejar fazer doações de livros de literatura infantil, das disciplinas regulares do ensino fundamental I e II ou ainda de materiais escolares pode entrar em contato com as educadoras do programa pelo telefone (84) 3232-7475.
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